Cinco em cena, com uma perspectiva e uma vivência singular de gênero. Pedimos licença ao espaço e a tudo que nos trouxe até aqui. Revelamos um pouco de nós e nos encontros há jogos de futebol, evas ressignificadas, conversas... Há um desmoronamento, o sistema de gênero que nunca dá conta da complexidade. Nos ancoramos, nos empurramos, entramos em fricção. No fim um desejo, uma quimera,
Quimera é um trabalho de dança que surge a partir do projeto “artesanias da existência” contemplado pelo PROAC - Dança e Performance / Produção de espetáculo inédito 2022. Em cena: Bruna Spoladore, Camila Bosso da Silva, Paloma Natácia, Rafa\'Amauzo e Rô Vicentte expressam perspectivas singulares de suas vivências de gênero. São perspectivas situadas, como diria Donna Haraway (acadêmica reconhecida nas áreas de estudos feministas e pós-coloniais) as quais não se pretendem universais, mas contextualizadas. Dançando a partir de um fazer artesanal, mais do que resolver questões, queremos compartilhar questões, dúvidas, ambiguidades e contradições que temos experienciado, pois acreditamos que dialogar através do fazer artístico é um caminho possível para criar escuta, empatia e identificação. Longe de querermos dar conta de toda a complexidade ou criar um trabalho reducionista, gostaríamos de convidar o público a perceber o quanto o sistema binário de gênero no qual vivemos, que divide a humanidade entre homem e mulher, é uma construção histórica e que, portanto, pode ser transformada, e que para além disso, estamos a dividir as pessoas entre mais e menos racionais, mais e menos sentimentais, com funções sociais diferentes como entre a de provedor e a de cuidadora. É por isto que os binarismos de gênero são tão violentos, porque reduzem nossa complexidade. Como se um órgão sexual pudesse criar, apenas por sua anatomia e fisiologia, todo um comportamento, uma psiquê, uma maneira de viver com e no mundo. Há muitos caminhos possíveis para a resistência a este reducionismo e aqui propomos uma reflexão artística. quimera é um convite para que o público possa, não pensar como nós, mas conosco, a partir de e com um trabalho de dança. O que não faz com que a violência de gênero, que é estrutural, desapareça, mas nos dá um pouco de poder e autonomia para questionar este sistema. E por quê fazer isto através de um trabalho de dança? Porque o corpo é o lugar de acontecimento e da materialização dos gêneros (seja através de gestos, comportamentos, vestuários...) nada então mais coerente do que fazer esta discussão no território em que ela se dá. A dança aqui é uma ferramenta de fabulação de outros corpos/mundos para que no futuro, pensando agora em temporalidades mais estendidas, como daqui a um século ou dois, que nós possamos, a partir destas fabulações, criar um novo sistema de gênero, que seja mais respeitoso com todas as vidas.